Eram exatamente 18h desta sexta-feira (07/12) de verão, ainda com sol a pino, quando o corpo do arquiteto Oscar Niemeyer foi enterrado ao som das músicas "Cidade Maravilhosa" e "Carinhoso", tocadas pela Banda de Ipanema, que tinha o arquiteto como patrono desde 2010.
Ao contrário do que informaram familiares do arquiteto e funcionários do Cemitério São João Batista, o corpo de Oscar Niemeyer, comunista convicto, foi sepultado em um simples carneiro (sepultura perpétua) e não em um mausoléu.
Comunistas jovens e velhos, enquanto o corpo descia a sepultura, chamavam em alto e bom som: “Companheiro Niemeyer”. Depois respondiam: “Presente”.
O corpo do arquiteto foi levado no final da tarde ao cemitério. A cerimônia de enterro foi reservada à família e amigos. No local, também está sepultada a filha do arquiteto, Anna Maria, falecida em junho passado, aos 82 anos.
Velório
Cerca de 150 pessoas assistiram ao culto ecumênico que encerrou o velório iniciado às 8h30, no Palácio da Cidade. A cerimônia durou 30 minutos e foi acompanhada por parentes, amigos, colegas de profissão e admiradores anônimos que chegaram ao palácio pouco antes de os portões serem fechados e foram autorizados pela família a permanecer no salão.
A viúva, Vera Lúcia, ficou especialmente emocionada quando, de mãos dadas, o público cantou a música "Suíte do Pescador", de Dorival Caymmi, puxada pelo pastor luterano Mozart Noronha. No momento de saída do caixão, os companheiros aplaudiram e cantaram a Internacional, hino dos comunistas.
Os portões do Palácio da Cidade, em Botafogo, na zona sul do Rio, foram fechados às 15h para o público. Ao longo da tarde de forte calor, o movimento de pessoas que foram ao velório diminuiu.
Durante a manhã, estiveram no local muitos parentes, amigos, admiradores e políticos, entre eles os governadores do Rio, Sergio Cabral, e de Minas Gerais, Antonio Anastasia, os prefeitos do Rio, Eduardo Paes, e de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, a viúva de Luís Carlos Prestes, Maria, e o filho mais velho do líder comunista, Luís Carlos Prestes Filho, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, e Maria Estela Kubitschek, filha mais nova do presidente Juscelino Kubitschek, o grande impulsionador da carreira de Oscar Niemeyer.
O velório foi aberto ao público com atraso, por volta das 8h30 desta sexta-feira (7), no Palácio da Cidade, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. Durante a noite e início da manhã, apenas parentes e amigos próximos tiveram acesso ao local. O corpo retornou de Brasília, onde foi velado no Palácio do Planalto, logo depois das 22 horas de quinta-feira (6), em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB).
Na chegada ao palácio carioca, o corpo foi recebido pela viúva, Vera, e pelo neurocirurgião Paulo Niemeyer, sobrinho do arquiteto. Eles não falaram com a imprensa.
O neto de Niemeyer, Carlos Oscar Niemeyer Magalhães, que trabalhou durante 13 anos no escritório do arquiteto, disse que a família ficou muito emocionada com o carinho das pessoas durante o velório em Brasília. Segundo ele, o avô lhe ensinou importantes lições de vida.
“Ele sempre dizia três coisa para a gente. A vida é um segundo, vamos viver a vida bem vivida, com os amigos e com a família. O mundo é injusto, temos que modificá-lo e fazer aquilo que a gente puder fazer de melhor para ajudar a corrigir as desigualdades sociais. E a outra coisa que ele dizia é que a palavra mais bonita é solidariedade.”
Como administrador do escritório do avô, Carlos contou que nem sempre era fácil gerir as finanças: “Como comunista, a ligação dele com o dinheiro era nenhuma.”
O neto justificou a escolha da família em fazer o enterro no Rio pelo amor que ele tinha pela cidade. “Ele era apaixonado pelo Rio de Janeiro, apesar de ter projetado Brasília e gostar muito de lá. Mas o Rio era a cidade dele.”
Várias personalidades prestaram uma última homenagem ao arquiteto nesta sexta. O governador do Rio, Sergio Cabral; o prefeito da cidade, Eduardo Paes e o vice-governador do estado, Luiz Fernando Pezão, chegaram cedo ao Palácio da Cidade. Também compareceram o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia; o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda; e de Maristela Kubitschek, filha mais nova do ex-presidente da República, Juscelino Kubitschek, que ergueu Brasília com os traços do arquiteto.
Outra presença ilustre foi do arquiteto e urbanista Jaime Lerner. "Foi um grande homem do seu tempo. É um homem cuja grandeza ultrapassou até a arquitetura. Foi um homem generoso. O maior arquiteto do mundo", disse ele.
Também prestaram homenagem ao arquiteto a viúva e o filho de Luís Carlos Prestes. Maria e Luís Carlos Prestes Filho puseram uma bandeira do movimento comunista sobre o caixão do arquiteto.
Entre as homenagens prestadas a Niemeyer foram destaque as coroas de flores enviadas pelo ex-líder cubano Fidel Castro e seu irmão, Raul, atual mandatário cubano.

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