Caminho por uma aldeia deserta na Espanha, e escuto uma banda de música. É feriado, todos estão se divertindo numa festa em uma casa particular – menos eu. Estou só, e não tenho com quem conversar. Há quatro meses estou viajando para a promoção dos meus livros, e me pergunto se afinal vale a pena tudo isto – se não devia largar tudo agora, e voltar para o Brasil. As ruas da aldeia são estreitas, anoitece, e a solidão fica mais difícil de aguentar.
De repente, ouço a voz de um homem cantando; deve ser o único na cidade que não foi à festa. “Por que?” pergunto para mim mesmo. Será que não gostam dele? Será que ele não gosta de festas? De qualquer maneira, escuto sua voz, e sinto que está alegre. Consigo entender alguns versos da canção:
Nestes dias todos os ventos do mundo
sopram na direção de quem sonha.
Nestes dias a chuva sempre desenha
o rosto de quem amamos.
Anoto os versos num bloco que às vezes carrego comigo. Nunca conhecerei este homem. Nunca saberei seu rosto ou sua idade. E ele nunca saberá que, nesta tarde gelada, me ensinou que eu não estava sozinho, e me devolveu a alegria e a coragem.
Paulo Coelho
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