Para que os ritos mágicos consigam passar de
geração em geração, o feiticeiro (ou xamã) deve esquecer tudo aquilo
que aprendeu antes de iniciar-se na magia. Segundo a tradição, um homem
ou mulher que está preso ao seu passado, termina deixando governar-se
pela maneira de pensar de seus pais, ou a sociedade em que vive. Por
isso, todo iniciado escolhe um novo nome, e procura livrar-se de
lembranças, boas ou más.
Para poder abandonar a história que
viveu, o feiticeiro passa meses seguidos recordando, nos menores
detalhes, cada um dos eventos de sua vida. Algumas tradições pedem que
ele fique horas a fio contando em voz alta, para um copo cheio de água,
tudo que aconteceu em cada encontro com cada pessoa; assim, a
experiência sai da memória e vai para a água - que em seguida é atirada
em um rio. Desta maneira, a cabeça fica “vazia”, e pode começar a ser
preenchida com novas coisas.
Uma vez livre de seus pensamentos
antigos, o feiticeiro concentra-se no silêncio interior, e espera que os
espíritos comecem a contar a verdadeira história do Universo. Este
silêncio, junto com a ausência de lembranças passadas, dá ao feiticeiro a
sensação de liberdade total para entender um novo mundo.
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