Uma ação é um pensamento que se manifesta.
Um pequeno gesto nos denuncia, de modo que temos que aperfeiçoar tudo,
pensar nos detalhes, aprender a técnica de tal maneira que ela se torne
intuitiva. Intuição nada tem a ver com rotina, mas com um estado de
espírito que está além da técnica.
Assim, depois de muito
praticar, já não pensamos em todos os movimentos necessários: eles
passam a fazer parte da nossa própria existência. Mas para isso, é
preciso treinar e repetir. E como se não bastasse, é preciso repetir e
treinar. Observe um bom ferreiro trabalhando o aço. Para o olhar
destreinado, ele está repetindo as mesmas marteladas.
Mas quem
conhece a importância do treinamento, sabe que cada vez que ele levanta o
martelo e o faz descer, a intensidade do golpe é diferente. A mão
repete o mesmo gesto, mas à medida que se aproxima do ferro, ela
compreende que se deve tocá-lo com mais dureza ou mais suavidade.
Observe
o moinho. Para quem olha suas pás apenas uma vez, ele parece girar com a
mesma velocidade, repetindo sempre o mesmo movimento. Mas aquele que
conhece os moinhos sabe que eles estão condicionados ao vento, e mudam
de direção sempre que for necessário.
A mão do ferreiro foi
educada depois que ele repetiu milhares de vezes o gesto de martelar. As
pás do moinho são capazes de se moverem com velocidade depois que o
vento soprou muito, e fez com que suas engrenagens ficassem polidas.
O
arqueiro permite que muitas flechas passem longe do seu objetivo,
porque sabe que só irá aprender a importância do arco, da postura, da
corda, e do alvo, depois que repetir seus gestos milhares de vezes, sem
medo de errar.
Até que chega o momento em que não é mais preciso
pensar no que se está fazendo. A partir daí, o arqueiro passa a ser seu
arco, sua flecha, e seu alvo.
Paulo Coelho
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