Ele passa boa parte do tempo no quintal sob a sombra fresca de uma árvore. Entra em casa apenas para comer, tomar banho e, eventualmente, dormir. Há 37 anos, Francisco Farias Carmona ganhou o sobrenome da família que vive na Rua Major João Manoel de Campos Penteado, no bairro Jardim Beatriz, em São Carlos (SP), mas pouca gente sabe disso. Para a vizinhança, ele é apenas Chico, um macaco-prego que não é muito chegado a bananas.
O animal é a atração dos moradores no bairro. Crianças e adultos sempre param na calçada para brincar com ele. Chico retribui o carinho e até joga beijos quando vê alguma garota, segundo Elizete Farias Carmona, de 70 anos, que o trata como se fosse um filho. A dona de casa contou que Chico chegou ao bairro por meio de um caminhoneiro vindo de Mato Grosso. Ela frequentava a casa da família devido à amizade que mantinha com a mulher e com os filhos.
"O Chico foi acostumando comigo e quando eu vinha embora ele vinha atrás de mim. O macaco era bravo com eles, mas comigo não. Um dia ele quis morder uma das crianças e o pai queria matar o macaco. A mulher interveio e como ele gostava de mim, acabou me dando. Eu comecei a cuidar. Ele nunca me mordeu, mas tem dias que ele está de mau humor e nem olha na minha cara", relatou Elizete.
Sombra e água fresca
Chico vive em uma árvore no quintal da casa. Segundo a família, falta dinheiro para cercar todo o espaço com uma tela, por isso o macaco fica preso a uma corrente apenas para não fugir. Quando escapa, fica pelas redondezas e depois volta.
“Se deixar solto, a gente tem medo que ele suba no fio de alta tensão ou entre em alguma casa e veja o reflexo dele no espelho e pense que é outro macaco. Uma vez aconteceu isso no armário da cozinha e ele quebrou alguns pratos”, disse o soldador Ernani Furlan, de 46 anos, filho mais velho de dona Elizete.
Ernani considera o macaquinho como um irmão e até divide o seu espaço com o bicho. Quando chove, Chico fica no quarto do soldador onde passa a noite. Ele mesmo se cobre e dorme cedo, por volta das 20h. Mas não sem antes tomar um copo de leite fervido com açúcar, rotina que repete três vezes ao dia.
O cardápio de Chico é especial e variado: frutas como uva e jabuticaba, pão molhado no leite, iogurte, salada, arroz, maionese, alface. Ele também adora farofa e milho, que divide com as galinhas no quintal.
O macaco toma banho no chuveiro e é dona Elizete quem corta o cabelo dele. “Não adianta ter uma criação e deixar jogada. O amor que eu tenho por ele é o mesmo que tenho pelos filhos. Não posso nem pensar em perdê-lo”, disse a dona de casa.
Denúncia
Dona Elizete contou que há mais de 20 anos recebeu fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e soldados da Polícia Ambiental em casa devido a uma denúncia. “Eles entraram e viram as condições e como o Chico é tratado. Até minha vizinha interveio e disse que se levassem o macaco eu morreria porque ele é como um filho. Desde então recebi autorização", contou.
Segundo o Ibama, não há como legalizar a situação. Quando há uma denúncia, os fiscais vão ao local, aplicam multa, apreendem o bicho e o levam para alguma instituição. Caso não exista um local para receber o animal e não for constatada nenhuma irregularidade no local em que ele já estava vivendo, é feito um Termo de Fiel Depositário. Com esse documento, a pessoa não pode ser multada novamente. A autorização, entretanto, pode ser cassada a qualquer momento e o animal retirado do ambiente.
O diretor do Parque Ecológico de São Carlos, Fernando Magnani, explicou que algumas instituições (como zoológico, criadouro, centro de reabilitação) não recebem mais macacos-prego por excesso de animais desta espécie. “Eles chegam em grande quantidade e não têm destinação posterior para outros locais. Vivem muito e reproduzem com alguma facilidade”, justificou.
De acordo com a Polícia Ambiental de São Carlos, Chico é domesticado e recebe um bom tratamento. A corporação afirmou que nunca recebeu uma denúncia de que o macaco tenha atacado alguém.
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