Terceira colocada na eleição de 2010, com 19,6 milhões de votos, a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, manobra para construir uma alternativa à polarização PT e PSDB. Logo depois das eleições de 2010, Marina entrou em conflito com a cúpula partidária do PV, deixando a legenda um ano e meio depois. Agora, a senadora anuncia a criação de sua nova legenda. Lançado na semana passada, o partido provisoriamente leva o nome de Rede Sustentabilidade, e agora corre para disputar a eleição de 2014.
A estratégia da ex-senadora é se apresentar como uma terceira via no cenário nacional. Desde 1994, quando Fernando Henrique Cardoso elegeu-se presidente da República, PT e PSDB têm sido absolutos na preferência do eleitorado. Em cinco eleições presidenciais, foram duas vitórias tucanas, três petistas e quatro segundos turnos entre os dois partidos. Mais: nenhum candidato fora das duas legendas conseguiu se estabelecer no quadro político brasileiro.
Ciro Gomes, Anthony Garotinho e Heloísa Helena – terceiros colocados das eleições de 98, 2002 e 2006 –, amargam hoje dificuldades eleitorais em seus próprios redutos. Enéas Carneiro, terceiro em 1994 e falecido em 2007, pouco fez além de deixar um bordão criativo. “Há uma dificuldade de encontrar espaço político fora do PT e PSDB. A Marina vinha sentindo isso. A criação de uma nova legenda é uma saída”, diz o cientista político Ricardo Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
A legenda de Marina, ainda em fase de coleta de assinaturas, já atraiu os deputados Domingos Dutra (PT-MA), Walter Feldman (PSDB-SP) e Alfredo Sirkis (PV-RJ). A vereadora de Maceió Heloísa Helena e o deputado Alessandro Molon (PT-RJ) também podem desembarcar no partido.
Por enquanto, porém, o partido de Marina ainda é uma incógnita recheada de boas intenções. A militantes, Marina declarou que a Rede não será “nem direita, nem esquerda”. “Estamos à Frente”, disse, em um discurso parecido com o do ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, quando da fundação do seu PSD.
A ex-senadora também ficou no muro em relação ao governo Dilma Rousseff: “Nem oposição, nem situação. Precisamos de posição”, desconversou. “É um discurso típico de quem está querendo puxar lideranças políticas de orientações ideológicas diferentes”, afirma Doacir Quadros, professor de Ciência Política do Grupo Uninter.
Ao mesmo tempo em que busca não criar antagonismos, Marina utiliza-se da marca da diferença para atrair a simpatia da classe média decepcionada com o PT pós-mensalão e cansada dos mesmos rostos tucanos. “Ao se denominar uma rede e fugir do termo partido, ela se afasta dessa descrença com os partidos que atinge parte da sociedade”, explica Oliveira.
Na prática, Marina não deverá ter dificuldade em criar sua rede e formalizar o 31.º partido brasileiro. Resta saber se a legenda terá identidade programática e peso político para se consolidar como terceira via da política brasileira.
Nova legenda aposta na militância ambiental
É com a ajuda da militância ambiental que o novo partido da ex-senadora Marina Silva deve tomar corpo. Ex-ministra do Meio-Ambiente no governo Lula, Marina deixou o cargo após bater de frente com a ala desenvolvimentista do governo, capitaneada pela então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. As concessões ambientais para as usinas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira (RO), foram as principais queixas de Marina à frente do Ministério.
“No Paraná, estamos construindo o partido em 37 municípios com as bases de 12 entidades. São ONGs e movimentos socioambientais. A maioria dos apoiadores da legenda vem dessa militância”, diz Letícia Camargo, mestre em políticas ambientais e uma das fundadoras da Rede no estado.
“Ela [Marina] tem um discurso ainda vago em alguns temas, como a discussão da política econômica. Mas nessa questão ambiental, ela tem uma posição firme, que atrai muito a juventude”, diz o cientista político Ricardo Oliveira, da UFPR.
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