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fevereiro 27, 2012

Quaresma hoje

Quem viveu no Brasil rural do século passado lembra o pavor que a Quaresma incutia no povo simples com a ameaça do lobisomem. Havia muitas crendices, que hoje provocam risos até em crianças. Por isso, gente desinformada dirige, às vezes, críticas ferozes à prática religiosa. Nada a ver; fé é uma coisa, superstição é outra. Apesar de alguns não gostarem, religiões sérias firmam-se em bases sólidas. Não se identificam com a ignorância, o fanatismo ou a malandragem que, infelizmente, se podem ver aqui e ali. A Quaresma nasceu do antigo catecumenato, período de preparação ao batismo. Para receber a vida nova da Páscoa, os candidatos deviam abandonar o modo pagão de viver. Eram instados à conversão, isto é, à mudança de caminho. Esse é o sentido original de penitência. Com o passar dos séculos, o enfoque se perdeu. O povo passou a se contentar com a mera observância de ritos exteriores.
No espírito do Concílio Vaticano 2° (1962-65), a Igreja do Brasil retomou a penitência como tarefa da vida real. Criou a Campanha da Fraternidade (1964) indicando situações existenciais do nosso povo, que precisam mudar. O cristão tem o dever de se tornar agente dessa mudança. Religião se pratica com a mão na massa. “Somos responsáveis uns pelos outros” (lema da CF-1966), “somos todos irmãos” (CF-1967), temos que “crer com as mãos” (CF-1968). Penitência é nos empenharmos na erradicação de tudo o que causa sofrimento aos nossos irmãos. Nestes 49 anos, a CF focalizou assuntos vitais, como água, alimento, comunicação, desemprego, drogas, ecologia, ecumenismo, educação, encarcerados, excluídos, família, fome, justiça, juventude, menores abandonados, migrantes, moradia, mulher, mundo do trabalho, negros, paz, política, povos indígenas, segurança pública, vida humana, violência etc. Neste ano, o tema é saúde, preocupação da maioria dos brasileiros.
Nestes dias muita gente está comentando a Lei da Ficha Limpa. Embora ninguém lembre, ela nasceu de iniciativa da Igreja Católica. O Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (www.mcce.org.br ), que reúne 51 entidades, reconhece: “A Campanha da Fraternidade de 1996, que teve por tema ‘Fraternidade e Política’, contribuiu para aflorar a criação do MCCE, porque, posterior à campanha, a Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lançou o Projeto ‘Combatendo a corrupção eleitoral’, em fevereiro de 1997”.
A Igreja Católica teve participação decisiva na implantação das duas únicas leis de iniciativa popular (Lei 9840/1999, da compra de votos, e Lei Complementar 135/2010, da ficha limpa). Quase 90% dos milhões de assinaturas enviadas ao Congresso Nacional, nas duas oportunidades, foram conseguidas pelo trabalho desenvolvido nas 8.700 paróquias espalhadas por todo o Brasil.
A gente não está contando vantagem. Não é praxe católica fazer publicidade. A mão esquerda não deve saber o que faz a direita (cf. Mt 6,3). Mas não custa, de vez em quando, divulgar o que alguns ignoram ou fazem questão de omitir. Reconhecemos nossos erros de ontem e de hoje. Pedimos sinceramente perdão. Mas somos responsáveis por muito mais do que Inquisição e pedofilia. A primeira se deu em contexto histórico-cultural bem diferente do atual. Quanto à segunda: entre os 20.000 padres do Brasil, foram achados menos de 40 pedófilos (nem 0,02%). É justo, a todo instante, sermos todos acusados desse crime?

Pe. Orivaldo Robles - Arquidiocese de Maringá

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