O sonho do peão Leandro Ghiglia, desde os 12 anos, quando montou em um boi pela primeira vez, era competir na Arena de Barretos durante a maior festa do peão de boiadeiro da América Latina. Virgulino, como era conhecido entre os amigos, era tão apaixonado pelo esporte que treinava por conta própria, em sítios e fazendas de amigos em Ribeirão Preto, cidade onde nasceu.
E foi justamente em uma dessas visitas, há dois anos, que um acidente por pouco não interrompeu sua carreira profissional. Acostumado com animais, Leandro não teve o mesmo equilíbrio ao pegar carona em um trem - a chamada rabeira -, e caiu atravessado no trilho. No tombo, ele conseguiu puxar uma das pernas, mas a outra ficou presa, e acabou sendo decepeda por um dos vagões. Dali até o hospital, passando por cirurgias e conversas com os médicos, Leandro se despedia do sonho.
- Achei que tinha perdido tudo quando acordei e não vi a minha perna no lugar. Veio aquela dor no coração e o sentimento de que tudo tinha acabado. Sempre amei rodeios. Minha vida era montar em boi - comentou Leandro, que tinha 15 anos na época do acidente - hoje ele tem 17.
Enquanto esteve internado, amigos, pais e o seu tio Helinho, em especial, o visitaram, sem deixar com que ele transformasse a amputação em algo maior do que o sonho de seguir com as montarias.
- Eles me deram muita força. Meu tio Helinho reuniu alguns amigos com o intuito de arrecadar dinheiro para comprar uma prótese. Ele conseguiu algumas doações de animais, fez um leilão e, com o dinheiro, comprou - disse Leandro, que gastou aproximadamente R$ 7,5 mil.
Com a 'nova perna', Leandro passou a viver uma fase de adaptação: sessões de fisioterapia, treinos de caminhadas, controle de força e equilíbrio eram necessários para que ele voltasse a caminhar com relativa normalidade.
- Foi uma fase muito difícil. Eu ficava magoado em casa, pensando que não deveria tentar pegar aquela carona no trem. Às vezes, quando eu ia levantar da cama, eu esquecia que não tinha a perna e ficava ainda mais triste - comentou Leandro, que precisou de um ano para recuperar a confiança e começar a pensar no retorno às montarias.
Mesmo com as limitações, Leandro voltou a treinar em alto nível e, na segunda-feira, (19/08), durante a 58ª Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, ele conseguiu ficar os seis segundos em cima do touro, garantindo uma das vagas na semifinal da categoria júnior, para atletas entre 16 e 17 anos.
- Meu sonho é montar na arena principal de Barretos. Quero chegar lá. Se eu conseguir ficar em cima do touro os seis segundos no sábado, estarei classificado para a grande final no domingo. Aí realizarei o meu sonho - comentou Leandro Ghiglia, que lamenta não ter a mesma firmeza de antigamente.
- O peão monta mais com o joelho do que com a perna. Como eu perdi o pé e a canela, às vezes fico prejudicado. Não tenho essa força e acabo dependendo da rotação, do pulo do touro para me dar bem. Mas não tenho do que reclamar. Poderia ter sido muito pior - finalizou Leandro Ghiglia.
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