Na visita ao Hospital São Francisco de Assis, na zona norte do Rio, o papa Francisco atacou nesta quarta-feira, (24/07), os projetos de liberalização das drogas na América Latina e acusou traficantes de serem os "mercadores da morte". Na primeira vez que fala publicamente sobre o problema das drogas desde o início de seu pontificado, o argentino deu as primeiras indicações de que, se seus gestos são novos e sua simpatia o transformou em um ícone global, ele não está disposto a mudar posições tradicionais da Igreja.
A crítica à liberalização das drogas ocorreu enquanto visitava o hospital, que atende dependentes de drogas, e depois de se reunir com cinco pacientes.
"Não é deixando livre o uso de drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química", declarou. Países como o Uruguai já liberalizaram o consumo de maconha, enquanto outros na região avaliam propostas similares.
Para ele, a solução não vem da liberalização, mas de uma estratégia para "enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança ao futuro".
Na avaliação de vaticanistas, Francisco começa a revelar com esse discurso que, apesar de ser tido como reformador, adotará posturas tidas como conservadoras em diversos setores sociais e desafios.
Mas o papa não deixou também de atacar o narcotráfico. "São tantos os 'mercadores da morte' que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo custo", disse. "A chaga do tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e a morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem", insistiu.
Não é a primeira vez que um papa ataca de forma frontal os narcotraficantes. Em 2007, quando Bento XVI esteve no Brasil, ele alertou que essas pessoas teriam de enfrentar a Deus no juízo final.
Parábola
O papa Francisco ainda atacou o egoísmo da sociedade por não dar atenção suficiente aos dependentes de drogas. "Precisamos abraçar quem tem necessidade", disse. "Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclamam a nossa atenção, cuidado, amor, como a luta contra a dependência química", declarou. "Frequentemente, porém, nas nossas sociedades, o que prevalece é o egoísmo", afirmou.
Francisco cita a parábola do Bom Samaritano, que fala de um homem atacado por assaltantes e deixado quase morto ao lado da estrada. "As pessoas passam, olham, mas não param. Indiferentes, seguem o seu caminho. Não é o problema deles".
O papa aponta para o centro de tratamento como exemplo do Bom Samaritano e lembra que São Francisco de Assis abriu mão de sua riqueza justamente depois que, quando jovem, abraçou um leproso.
"O jovem Francisco abandonou riquezas e comodidades do mundo para fazer-se pobre no meio dos pobres, entende que não são as coisas, o ter, os ídolos do mundo a verdadeira riqueza e que estes não dão a verdadeira alegria, mas sim seguir a Cristo e servir aos demais", disse. "Em cada irmão e irmã em dificuldades, abraçamos a carne sofredora de Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a dependência química, quero abraçar cada um de vocês".
Francisco garante que a Igreja está ao lado deles. Mas, na avaliação do papa, parte da responsabilidade em se recuperar é do próprio dependente. "Você é o protagonista da subida. Esta é a condição imprescindível. Você encontrará a mão estendida de quem quer lhe ajudar. Mas ninguém pode fazer a subida no seu lugar", declarou. "A travessia é longa e cansativa, mas olhem para frente. Não deixem que lhes roubem a esperança. Mas também digo: não roubemos a esperança, pelo contrário, tornemo-nos todos portadores de esperança."
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