Quem vê Augusto Roberto Cocina, de 69 anos, circulando pelos corredores de um cursinho pré-vestibular em Piracicaba (SP) logo imagina tratar-se de um professor ou de um funcionário antigo da instituição. Mas assim que o aposentado de 1,73 metro de altura e poucos cabelos grisalhos entra na sala de aula e se dirige à carteira de costume, a diferença de idade em relação aos demais estudantes desaparece. Prestes a completar sete décadas de vida, Cocina resolveu enfrentar o desafio de voltar a estudar e há três anos frequenta aulas preparatórias. O sonho é conquistar uma vaga no curso de agronomia na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), campus da USP (Universidade de São Paulo) em Piracicaba. Para isso, antes de participar da primeira fase de um dos vestibulares mais concorridos do país em 25 de novembro, Cocina vai encarar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste final de semana.
O aposentado está entre os 932.493 inscritos para o Enem no estado de São Paulo. "A rotina de estudos é puxada para uma pessoa da minha idade, mas busco inspiração a cada novo caderno e apostila e conto com o apoio e a força jovem dos meus colegas de classe", disse. Cocina mora em uma chácara em São Pedro (SP) e aluga um apartamento em Piracicaba, onde montou uma espécie de QG para estudar. Ele acorda todos os dias às 4h45, se arruma e vai de carro para o cursinho em Piracicaba, no bairro Alto. As aulas começam às 7h e de segunda, quarta e sexta acontecem apenas no período da manhã; já às terças e quintas, se estendem durante todo o dia. "Eu andava meio depressivo lá na chácara. Voltando a estudar e a ter contato com pessoas mais novas, fiquei renovado", afirmou.
Entre o final da década de 1970 e o início dos anos 80, Cocina frequentou aulas em uma faculdade particular em São Bernardo do Campo (SP). O curso superior em química, no entanto, não foi concluído em razão da rotina atribulada. Na época, ele morava em São Paulo (SP) e trabalhava no laboratório de uma empresa do ramo petroquímico. "Não consegui conciliar trabalho, estudos e família. Resolvi desistir da faculdade, mas prometi a mim mesmo que retomaria os estudos depois que criasse meus três filhos e me aposentasse", contou.
A aposentadoria veio em 1992, mas a retomada do sonho de conquistar um diploma universitário ainda demorou a acontecer. "Três anos atrás, com os filhos criados e 'encaminhados', comecei a correr atrás do prejuízo", relatou o estudante. E se engana quem pensa que o fato de ser o mais experiente da turma, que tem ao menos 100 alunos, alivia alguma coisa para Cocina. "Eu tenho que estudar mais que eles, que estão com a cabeça fresca do ensino médio. Eu fiquei 30 anos parado, mas me esforço bastante para acompanhar o ritmo da sala. E assim, passo a passo, busco concretizar meu sonho", afirmou.
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