Havia um sítio que ficara alguns anos abandonado. O novo proprietário optou por sua renovação. Aos poucos, a beleza foi retornando: canteiros de flores substituíram arbustos desordenados, árvores frutíferas receberam maiores cuidados e os caminhos internos foram redesenhados, assim como a pequena fonte. Um pequeno parreiral, com meia dúzia de videiras, sobreviveu aos anos de abandono e ostentava soberba vegetação, mas pouco produzia: apenas alguns pequenos cachos de uvas amargas. Aparentemente, o adubo colocado não trouxera resultados. No fim do inverno, um agricultor experiente foi convidado a avaliar o parreiral.
Um dia, ao voltar da cidade, o proprietário ficou espantado. Pouco restava do parreiral. Mãos inexperientes haviam-no praticamente arrasado: grandes galhos, cheios de vida, foram cortados. Sobrara apenas um esqueleto mutilado do que fora um dia um lindo parreiral. Entristecido e irritado, o proprietário pensou em telefonar para o desastrado agricultor, embora tivesse chegado à conclusão de que nada adiantaria.
O tempo passou. Certo dia, percebeu que o parreiral estava novamente verde: brotos viçosos saudavam a primavera. depois ficaram carregados de pequenos cachos de uva. Desenvolveram-se e assumiram uma coloração aveludada. Seu aroma começou a ser percebido à distância. Finalmente, uvas abundantes e maduras. Só então entendeu a finalidade da poda. Durante anos de tranqüilidade, as parreiras nada haviam produzido, mas, após o corte dos ramos, explodiram no milagre da colheita.
Muitas vezes, isso ocorre com as pessoas. Choramos os golpes que a vida nos dá, sofremos silenciosamente as perdas e nos convencemos de que a vida não tem mais sentido. Faz frio, e a noite parece sem estrelas e sem fim. Entretanto, ao chegar a primavera, a vida renasce em toda parte. A dor fica para trás e encontramos sonhos novos, novas perspectivas e um novo sentido para a vida. Então percebemos que o sofrimento não foi inútil.
Também acontece quando nos esforçamos para construir alguma coisa.
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