Os filhos do centenário Fausto Cardoso dos Santos se emocionam toda vez
que falam do pai. Lúcido e com força nos braços e pernas, Seu Fausto,
como é chamado no Jardim Morumbi, em Paranavaí, no noroeste do Paraná,
lembra até hoje quando decidiu abandonar o Sergipe na década de 1960
para criar os nove filhos em solo paranaense. Segundo ele, ou se
acostumava com a seca e via a família passar fome, ou viajava por mais
de 15 dias, em cima de um caminhão, com destino a um futuro
possivelmente melhor. “A família é tudo na vida de um homem. Embarquei
todo mundo e paramos aqui em Paranavaí para colher café”, lembra.
Em meio às lavouras de café, algodão e mandioca, Fausto criou e educou
os filhos baseado nas lições do pai sertanejo. “Sinto falta dele [pai]
até hoje. Lembro que o dom dele era benzer as pessoas. Enquanto ele
visitava a casa de um ou outro vizinho, nós trabalhávamos na roça. Ele
ficava feliz por isso”, recorda Fausto dos Santos.
Reconhecendo que é um pai bravo e que até hoje exige respeito dos
filhos, netos e bisnetos, o aposentado diz que o segredo para ter uma
família grande unida é criar os filhos com educação. “Na minha época,
nenhum filho respondia o pai ou a mãe.Os meus filhos foram criados para
me respeitar. Uma pena que isso já não acontece mais”, pontua o
centenário.
Sobre famílias grandes Fausto entende muito bem. Além dos nove filhos,
ele tem 21 netos, 15 bisnetos e dois tataranetos. Já no terceiro
casamento, ele não fica parado em casa. “Agradeço a Deus por ser pai e
por ter tantos filhos. A família é algo precioso”, se emociona o
aposentado.
A admiração pelo idoso transborda nos rostos dos integrantes da família
Cardoso. Com lágrimas nos olhos, o filho mais velho, João Cardoso dos
Santos, de 69 anos, recorda que o pai não admitia que a prole faltasse à
escola ou deixasse de pensar na família como uma coisa só. “Eu amo o
meu pai porque ele sempre foi uma pessoa batalhadora, tratava todo mundo
com respeito e, ao mesmo tempo, pegava no pé se fosse preciso”, diz
entre lágrimas o agricultor. “O que eu puder fazer por ele, eu vou
fazer”, declara.
O carinho transmitido por Fausto dos Santos passou para outras
gerações. A neta mais nova, Tais dos Santos Coelho, de 21 anos,
argumenta que a força do avô é um exemplo. “Nós seguimos o exemplo dele.
Ele é tão lúcido, tem tanto a ensinar. Fora que nem todo mundo tem um
avô centenário”, diverte-se.
Mesmo com a idade avançada, foi registrado no dia 16 de maio de 1914,
Fausto não deixa de sonhar. “Desde que eu saí do Sergipe nunca mais vi
meus irmãos. Quero reencontrá-los antes de morrer. O meu filho diz que
não vou aguentar a viagem. Mas, eu sei que aguento”, acredita o
centenário.
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