Tenho conhecido muitas pessoas que se
preocupam com os outros, que são extremamente generosas na hora de dar, e
que encontram um profundo prazer quando alguém lhes pede um conselho ou
apoio. Até aí tudo bem – é ótimo poder fazer o bem ao nosso próximo.
Entretanto,
tenho conhecido muito poucas pessoas que são capazes de receber algo –
mesmo quando lhes é dado com amor e generosidade.
Parece que o
ato de receber faz com que se sintam numa posição inferior, como se
depender de alguém fosse algo indigno. Pensam: “se alguém está nos dando
algo, é porque somos incompetentes para consegui-lo com o próprio
esforço”. Ou então: “a pessoa que me dá agora, um dia irá cobrar com
juros”. Ou ainda, o que é pior: “eu não mereço o bem que me querem
fazer”.
Por que agimos assim? Porque nos custa entender que este universo é feito de dois movimentos.
O
primeiro é a expansão, rigor, disciplina, conquista; o segundo é a
concentração, meditação, entrega. Basta olhar o nosso coração (e não é à
toa que o coração sempre foi identificado como o símbolo da vida) para
compreender que são estas duas energias que o fazem bater, contrair-se e
expandir-se no mesmo ritmo. As muitas estrelas do céu estão emitindo
luz, mas ao mesmo tempo estão sugando tudo a sua volta, naquilo que é
conhecido pelos físicos como força de gravidade.
Assim, os atos de dar e de receber, embora sejam aparentemente opostos, fazem parte do mesmo e contínuo movimento.
Não é melhor quem dá com generosidade, nem é pior quem recebe com alegria. O amor é, justamente, fruto destas duas coisas.
Paulo Coelho
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