O Papa Francisco convidou neste domingo (17/08), na Coreia do Sul, os países asiáticos,
como China e Vietnã, a aceitar um diálogo respeitoso entre culturas e
estabelecer relações plenas com o Vaticano.
Dirigindo-se aos bispos da Ásia na cidade sul-coreana de Haemi, cerca
de 100 km ao sul de Seul, o santo padre convidou a Igreja a 'ser
diversificada e criativa' para o diálogo com as culturas desta vasta
região.
Mais tarde, ao celebrar uma missa como parte da Jornada da Juventude
Asiática, o pontífice pediu aos jovens católicos do continente que
'despertem' e defendam, mesmo arriscando suas vidas, como os mártires da
Coreia, os valores do Evangelho na sociedade contemporânea.
Sem citar em nenhum momento os nomes da China ou Vietnã, o bispo de
Roma estendeu a mão a esses e outros países asiáticos que não têm
relações diplomáticas com a Santa Sé, como a Coreia do Norte,
Afeganistão, Butão, Brunei, Laos ou Mianmar.
'Neste espírito de abertura para com o outro, espero fortemente que os
países do continente com os quais a Santa Sé não tem uma relação plena
não hesitem em promover o diálogo para o benefício de todos', lançou.
'Eu não estou falando apenas de um diálogo político, mas do diálogo
fraterno'. Estes países devem perceber que 'os cristãos não chegam como
conquistadores', acrescentou.
Hostil ao proselitismo, Francisco citou sobre o seu antecessor Bento
XVI: 'A Igreja não converte por proselitismo, mas por atração'.
Com Hanoi, o Vaticano parece estar prestes a estabelecer relações diplomáticas, graças a um
diálogo perseverante. Em Pequim, no entanto, a abordagem parece em ponto
morto, devido a consagração de bispos sem a aprovação da Santa Sé.
Um continente promissor
Para a primeira viagem à Ásia desde que João Paulo II visitou a Índia
em 1999, Francisco escolheu a Coreia do Sul, onde os cristãos são mais
numerosos do que os budistas. Os católicos representam mais de 10% da
população e 100.000 batismos são celebrados anualmente.
A Igreja Católica está crescendo na Ásia, mas por enquanto representa
apenas 3,2% da população. Enquanto alguns países envelhecem, como no
caso do Japão, oferecendo poucas chances de evangelização, outros países
emergentes da Ásia são verdadeiras terras de missão.
Francisco pediu às delegações de 22 países, incluindo a China, a
afirmar o 'claro sentido da identidade' cristã, e preservar recorrendo à
mensagem do Evangelho.
Crítica ao relativismo
O Papa escolheu, para o seu primeiro grande discurso sobre a Ásia, o
santuário do mártir desconhecido de Haemi, que professa reverência aos
mártires que fortaleceram o cristianismo na região.
O cardeal de Manila, Luis Antonio Tagle, um dos principais bispos da Ásia, saudou esta escolha.
'Com a beatificação (de 124 mártires coreanos), emocionei-me em ver que
tivemos tantos antepassados que aceitaram pagar o preço de ser
cristãos, chegando a dar sua vida. É uma inspiração para todos nós',
disse o cardeal.
Durante sua visita à Coreia do Sul, o sucessor de Pedro não deixou de
invocar as origens do cristianismo, advertindo que a fé está sendo
ameaçada pelo materialismo e o relativismo. 'Há 'um relativismo prático,
diário, que de forma quase imperceptível enfraquece toda a identidade'.
E, como disse na sexta-feira, a fé em Cristo é o 'antídoto' contra 'o
câncer da desesperança' que leva muitos jovens asiáticos ao suicídio.
O Papa não apresentou como ameaças as perseguições políticas que
ocorrem, por exemplo, na Coreia do Norte, ou religiosas em vários
países.
Em vez disso, Francisco salientou a necessidade de se concentrar nos
excluídos. Desta forma, disse à igreja coreana: 'Deixe-me perguntar se a
identidade cristã de suas igrejas se manifesta claramente em serviço
para aqueles que sofrem à margem de nossas sociedades ricas'.
O Papa termina na segunda-feira sua triunfal viagem de cinco dias à
Coreia do Sul, onde 800 mil pessoas participaram no sábado, em Seul, de
uma missa para a beatificação de 124 mártires católicos.
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