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agosto 20, 2014

Astorga : ‘Inventor’ do café adensado se mantém fiel ao sistema 40 anos depois



Quando decidiu plantar café, nos anos 70, o contabilista Manoel Tadashi Hirata foi chamado de louco. Primeiro porque ele, embora tenha nascido na roça, não entendia nada de agricultura, segundo porque naquele momento o Paraná inteiro estava erradicando os cafezais queimados pelas geadas de 1975, depois porque ele estava realmente fazendo uma loucura: decidiu plantar 6,5 mil covas por alqueire, quando qualquer cafeicultor experiente e ajuizado plantaria apenas 1,5 mil.
Mas, quem o chamava de louco mudou de ideia quase quatro anos depois, no dia em que uma caravana de engenheiros agrônomos da Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC), uma das mais respeitadas do Brasil na época, chegou ao pequeno sítio de 5 alqueires em Astorga, na estrada para Jaguapitã, para conhecer o sistema de plantio adensado e como Hirata conseguia produzir 4 vezes mais do que cafeicultores tradicionais. Enquanto pelo sistema tradicional se apurava de 10 a 15 sacas de café limpo, Hirata colhia acima de 50.
Nos anos seguintes chegaram técnicos de outras cooperativas, foram realizados dias de campo no sítio e até proprietários de terras de Minas Gerais e Espírito Santo, que na época iniciavam a cafeicultura, vinham em caravanas a Astorga. O café adensado de Hirata ganhou divulgação no Brasil inteiro e serviu para comprovar o que cientistas do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e de outros centros de pesquisas do café vinham pregando havia anos, mas não conseguiam convencer, principalmente depois das geadas de 1975.
No início, Hirata não foi tão confiante de que sua loucura daria certo. Antes de plantar 6,5 mil pés de café no lugar de 1,5 mil, ele tratou de garantir renda para a propriedade com uma granja para produzir ovos. Todos os dias, ele entrega no mercado entre 25 e 30 caixas, com 300 ovos cada uma. Além disto, ele é contador e tem um dos mais conhecidos escritórios de Astorga, é também administrador de empresas, advogado, tem pós-graduação em Administração de Empresas e Licenciatura em Magistério.
“Eu não era cafeicultor, por isto usei a lógica, a matemática, para fazer minhas experiências”, conta ele, com a prática de quem já proferiu centenas de palestras às caravanas que visitam sua propriedade. “Calculei os espaços, a posição que ficaria cada planta, como seriam feitos os esqueletamentos para a entrada de luz e quando uma planta deveria ser substituída”. Hirata percebeu também que em um ano dá boa colheita, no seguinte a produção é fraca porque o galho que produziu neste ano não produzirá no mesmo espaço no ano que vem. Assim, os esqueletamentos são alternados entre as plantas e a cada ano um pé de cada quatro será retirado e substituído por uma muda nova. Assim, o cafezal nunca envelhecerá e nem estará inteiramente esqueletado.
Aos 83 anos e tão ativo hoje quanto na época em que virou cafeicultor, dono de 26 mil pés de café e 500 galinhas poedeiras em apenas 5 alqueires, Manoel Hirata diz que “o adensamento deu certo, dei minha contribuição à cafeicultura brasileira em um momento em que a maioria dos produtores desistiam da atividade, e agora estou investindo em qualidade do café”. Ele diz que está experimentando novos tratos culturais para chegar a uma bebida cada vez melhor.
O curioso de toda esta história é que Manoel Hirata, apontado como exemplo de inovação na agricultura, não bebe café.

http://blogs.odiario.com/luizdecarvalho-Foto: Douglas Marçal

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