Quando decidiu plantar café,
nos anos 70, o contabilista Manoel Tadashi Hirata foi chamado de louco.
Primeiro porque ele, embora tenha nascido na roça, não entendia nada de
agricultura, segundo porque naquele momento o Paraná inteiro estava
erradicando os cafezais queimados pelas geadas de 1975, depois porque
ele estava realmente fazendo uma loucura: decidiu plantar 6,5 mil covas
por alqueire, quando qualquer cafeicultor experiente e ajuizado
plantaria apenas 1,5 mil.
Mas, quem o chamava de
louco mudou de ideia quase quatro anos depois, no dia em que uma
caravana de engenheiros agrônomos da Cooperativa Agrícola de Cotia
(CAC), uma das mais respeitadas do Brasil na época, chegou ao pequeno
sítio de 5 alqueires em Astorga, na estrada para Jaguapitã, para
conhecer o sistema de plantio adensado e como Hirata conseguia produzir 4
vezes mais do que cafeicultores tradicionais. Enquanto pelo sistema
tradicional se apurava de 10 a 15 sacas de café limpo, Hirata colhia
acima de 50.
Nos anos seguintes chegaram
técnicos de outras cooperativas, foram realizados dias de campo no
sítio e até proprietários de terras de Minas Gerais e Espírito Santo,
que na época iniciavam a cafeicultura, vinham em caravanas a Astorga. O
café adensado de Hirata ganhou divulgação no Brasil inteiro e serviu
para comprovar o que cientistas do Instituto Agronômico do Paraná
(Iapar) e de outros centros de pesquisas do café vinham pregando havia
anos, mas não conseguiam convencer, principalmente depois das geadas de
1975.
No início, Hirata não foi
tão confiante de que sua loucura daria certo. Antes de plantar 6,5 mil
pés de café no lugar de 1,5 mil, ele tratou de garantir renda para a
propriedade com uma granja para produzir ovos. Todos os dias, ele
entrega no mercado entre 25 e 30 caixas, com 300 ovos cada uma. Além
disto, ele é contador e tem um dos mais conhecidos escritórios de
Astorga, é também administrador de empresas, advogado, tem pós-graduação
em Administração de Empresas e Licenciatura em Magistério.
“Eu não era cafeicultor,
por isto usei a lógica, a matemática, para fazer minhas experiências”,
conta ele, com a prática de quem já proferiu centenas de palestras às
caravanas que visitam sua propriedade. “Calculei os espaços, a posição
que ficaria cada planta, como seriam feitos os esqueletamentos para a
entrada de luz e quando uma planta deveria ser substituída”. Hirata
percebeu também que em um ano dá boa colheita, no seguinte a produção é
fraca porque o galho que produziu neste ano não produzirá no mesmo
espaço no ano que vem. Assim, os esqueletamentos são alternados entre as
plantas e a cada ano um pé de cada quatro será retirado e substituído
por uma muda nova. Assim, o cafezal nunca envelhecerá e nem estará
inteiramente esqueletado.
Aos 83 anos e tão ativo
hoje quanto na época em que virou cafeicultor, dono de 26 mil pés de
café e 500 galinhas poedeiras em apenas 5 alqueires, Manoel Hirata diz
que “o adensamento deu certo, dei minha contribuição à cafeicultura
brasileira em um momento em que a maioria dos produtores desistiam da
atividade, e agora estou investindo em qualidade do café”. Ele diz que
está experimentando novos tratos culturais para chegar a uma bebida cada
vez melhor.
O curioso de toda esta história é que Manoel Hirata, apontado como exemplo de inovação na agricultura, não bebe café.
http://blogs.odiario.com/luizdecarvalho-Foto: Douglas Marçal
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