Durante minha estada no castelo alugado por uma revista brasileira em Brissac, França, um jornalista da região vem me entrevistar. No meio da conversa, assistida por outras pessoas, ele quer saber:
“Qual foi a melhor pergunta que um repórter já lhe fez?”
Melhor pergunta? Acho que já me fizeram todas as perguntas, menos a que ele acaba de fazer. Peço tempo para pensar, estudo as muitas coisas que queria dizer e nunca quiseram saber. Mas no final, confesso:
“Acho que foi exatamente esta. Já tive perguntas que me recusei a comentar, outras que me permitiram falar sobre temas interessantes, mas esta é a única que não tenho como responder com sinceridade”.
O jornalista anota. E diz:
“Vou lhe contar uma interessante história. Certa vez fui entrevistar Jean Cocteau. Sua casa era um verdadeiro amontoado de bibelôs, quadros, desenhos de artistas famosos, livros … Cocteau guardava tudo, e tinha um profundo amor por cada uma daquelas coisas. Foi então que, no meio da entrevista, eu resolvi perguntar: ‘se esta casa começasse a pegar fogo agora, e você só pudesse levar uma coisa consigo, o que escolheria?’”
“E o que Cocteau respondeu?”, pergunta Álvaro Teixeira, responsável pelo castelo onde estamos, e grande estudioso da vida do artista francês.
“Cocteau respondeu: ‘eu levaria o fogo’”.
E ali ficamos todos, em silêncio, aplaudindo no íntimo do coração a resposta tão brilhante.
(Paulo Coelho)
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