O fusquinha do inspetor não quer acabar de chegar. A uns quinhentos metros da escola rural, para onde se dirige, começou a ratear, atravessou aos pulos a pontezinha do ribeirão e parou numa pequena ladeira.
O dono do carrinho olhou para os ponteiros do painel. A gasolina era suficiente. Mais uma tentativa. Mas o carro fazia nhé...nhé...nhé.Saiu do carro, ergueu o capo, apertou ali, apertou aqui, só para fazer alguma coisa. Deu partida. Nada de querer pegar.
Olhou então para os ponteiros do relógio. Oito horas. Está começando a aula na escolinha. Abriu novamente o capo e ficou olhando para aquela porção de fios e peças, humilhado e impotente. Foi quando ouviu uma voz de criança:
- É cabo de vela.
Era um menino de seus onze anos, pé no chão, camisa remendada e bolsa escolar a tiracolo que se aproximava do carro sem que o inspetor percebesse. Pediu licença, inclinou-se sobre o motor, tirou a vela, limpou-a cuidadosamente e a recolocou dizendo com segurança:
- Pode dar a partida.
O homem sacudiu incredulamente a cabeça, mas experimentou. O carrinho começou a roncar. Satisfeito, o menino ia saindo, quando o homem o chamou.
- Obrigado, menino. Mas... é hora de começar a aula. Você não vai?
- Minha professora me dispensou porque hoje vai chegar o inspetor.
- O que tem a ver uma coisa com outra?
- Eu sou o mais bobo da classe, como ela sempre diz. Ela me dispensou para não envergonhar a escola diante do inspetor...
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