A aposentada Rose Morini, de 68 anos, começou a cuidar de gatos depois
que, em menos de cinco anos, o casamento de três décadas terminou e a
única filha, de 23 anos na época, morreu vítima de um enfarto. Após os
traumas pessoais, ela decidiu adotar animais abandonados dentro da casa
onde vive em Tatuí (SP) e hoje, 15 anos depois, totaliza 100 bichos espalhados pelo local.
“São minha vida. Uso toda minha energia e gasto tudo o que tenho com
eles. Faço por amor”, afirma.
Os animais habitam todos os cômodos da casa. Vivem e dormem no quarto
da idosa, além da cozinha e até no banheiro. Sobem em qualquer móvel,
desde a própria cama da dona até a pia da cozinha. O local com o maior
número de gatos é o quintal. Devido a tantos animais dentro de uma só
casa, uma das maiores dificuldades é a limpeza.
“Os gatos fazem as necessidades em baldes forrados por papel de jornal.
Mesmo assim limpo a casa desde a hora que acordo até dormir. As pessoas
me dizem que sou uma acumuladora de bichos, que sofro cuidando deles
porque quero. Mas não saio à procura deles nas ruas, pois muita gente
sabe que cuido, então, jogam eles em frente de casa. Tenho só duas
opções: ou trazer para dentro ou deixá-los para morrer, mas não os
deixo”, reflete.
A idosa ressalta que o amor pelos gatos é a única coisa capaz de
superar a depressão. Ela conta até que já pensou em se suicidar e foi
impedida por um dos animais.
“Era um dia muito triste. Era festa de Ano Novo de 2012. Eu estava
sozinha em casa enquanto todas as outras pessoas estavam com suas
famílias. Durante a queima de fogos eu amarrei uma corda no teto do
corredor. Pensei ‘ninguém vai se importar se eu for, pois ninguém se
lembrará de mim.’ Mas enquanto pensava em besteiras, um gato cego veio
atrás de mim e começou a puxar minha saia, me impedindo. Foi como se ele
dissesse: ‘Sua covarde, se você for embora, quem vai cuidar de nós?’,
descreve.
O gato que teria salvado a vida dela é chamado de Negão. Além dele,
muitos bichos têm nomes dados por aparências físicas ou pela
personalidade. Assim como o Hitler e o Morto, que são bravo e calmo,
respectivamente, segundo ela. Os mais antigos estão há mais de dez anos
com a idosa. Todos são cadastrados e passam por veterinários para evitar
doenças. Ainda segundo a aposentada, mesmo querendo parar de pegar os
animais que são abandonados, eles não param de chegar: Só em abril foram
mais nove.
A ajuda vem só de algumas vizinhas e de outros apaixonados pelos
animais, diz Rose. Mas o auxílio não é suficiente: com gastos mensais
que chegam a R$ 1 mil e benefício da aposentadoria de um salário mínimo
de R$ 788, a solução, às vezes, é vender o que tem dentro de casa, conta
a idosa.
“Vendo desde roupa, cobertor e até aspirador de pó. Às vezes ganho
algumas coisas das vizinhas também. Todo mês é uma luta para dar conta
de tudo: ração, produtos de limpeza, remédios, comida. Mas no fim eu
consigo. Tudo o que queria atualmente eram três dias de folga, só para
dormir até tarde. Mas não consigo. E pensar que o primeiro gato que tive
eu roubei quando tinha 8 anos. Acho que, de raiva, jogaram uma praga
para que eu tivesse um monte deles (risos)”, conta.
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