Paulo VI será beatificado em 19 de outubro por um milagre ligado à causa
pró-vida. A Congregação para a Causa dos Santos reconheceu na terça-feira, (06/05), que o nascimento sadio de uma criança, cuja mãe
enfrentou graves problemas na gestação e foi aconselhada por médicos a
abortar, ocorreu após a intercessão de Giovanni Battista Montini, o papa
progressista que concluiu os trabalhos do Concílio Vaticano II, que
reformou a Igreja.
Paulo VI é ainda o papa da encíclica Populorum
Progressio (Progresso dos povos), na qual defendia o acolhimento dos
desvalidos, a divisão das terras e o imposto sobre grandes fortunas.
Dizia haver chegado "a hora da ação" para os católicos. Estes deviam
mudar a realidade injusta dos países subdesenvolvidos, o que estimulou
na América Latina a leitura dos Evangelhos dos teólogos da libertação.
Mas
Montini também foi o papa da encíclica Humanae Vitae (Sobre a Vida
Humana), de 1968, que condenou o aborto e os métodos artificiais de
contracepção, como a pílula. "Ele foi crucificado em vida por causa
desse documento. É emblemático esse milagre. De fato, Paulo VI tenderá a
ser visto como um santo pró-vida", disse o professor de Teologia e
diretor do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica
(PUC), Francisco Borba Ribeiro Neto.
Após as reformas dos anos
1960, como a da liturgia - com a missa nas línguas nacionais em vez do
latim -, a Humane Vitae foi um marco. "É quando a opinião pública se dá
conta de que o corpo central do magistério da Igreja não seria mudado",
disse Borba. Era uma reação à ideia de que só haveria vida a partir do
momento em que o feto fosse capaz de viver de forma autônoma, fora do
útero materno. A consequência é que, se o feto não tem vida, não haveria
razão para proibir o aborto.
"Ele (Paulo VI) foi tremendamente
corajoso", afirmou o capelão do Mosteiro da Luz, José Arnaldo Juliano
dos Santos. O milagre de Paulo VI ocorreu nos Estados Unidos, em 2001,
país onde o aborto foi legalizado em 1973 pela Suprema Corte. A mãe
estava no quinto mês de gestação quando médicos disseram que o feto
teria graves problemas e podia até morrer. Depois, não souberam explicar
o nascimento sadio do menino. Após a beatificação, Montini deve ser
canonizado, a exemplo dos papas João XXIII e João Paulo II. Com isso,
dizem Borba e José Arnaldo, o Concílio Vaticano II passa a ser
compreendido como uma obra de santos.

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