Acho que, para a maioria das pessoas mais adultas, o natal traz muitíssimas recordações. Quem não se lembra dos encantos e surpresas com que a festa era celebrada? Do presépio montado num lugar central da casa. Das paredes das casas de madeira que eram lavadas e ficavam super limpas. Dos doces e bolachas próprios dessa data, preparados com esmero pela mamãe. Da aquisição da “cesta de natal Amaral”.
Do guaraná comprado com mais abundância. Do modo como os presentes eram trocados. Da certeza que o presente era um verdadeiro sinal do grande e único presente recebido dos céus. Da “missa do galo”... Detalhes que marcaram e fizeram a gente entender que natal não é uma festa do papai noel, nem do consumismo exacerbado e nem da comilança desenfreada. É mais e muito mais. Afinal de contas, celebramos o nascimento de Deus feito gente entre nós. Ele veio se humanizar para que a humanidade pudesse se divinizar!
Foi nessa forma dialogal, o Divino vindo ao encontro do humano e o humano deixando-se encontrar pelo Divino, que a humanidade descobriu o rosto humano de Deus. São João assim expressa: “E o Verbo se fez homem e veio morar entre nós” (Jo 1, 14). Este foi e continuará sendo o verdadeiro natal. Porque Deus não se cansa de mostrar sua paixão irresistível e eterna pela vida humana... Tanto isso é verdade que ele fez-se Deus-conosco, o Emanuel (Is 7, 14).
O rosto resplandecente de Jesus criança iluminou os rostos de todas as faces de todos os humanos. Em Jesus encarnado, já não mais existem barreiras de cor, raça, língua, sexo, nação, cultura e religião. Tornamo-nos, de uma maneira própria, criaturas novas. O Verbo encarnado veio autenticar a dignidade da vida humana, trazendo a todas e a todos a identificação com Deus. Nele, somos feitos pessoas revestidas de dignidade divina. Em Jesus, somos criaturas novas, verdadeiras imagens e semelhanças do Criador.
Viver o natal significa buscar a plena reconciliação com nossa humanidade, quer em cada indivíduo particular, quer no conjunto do corpo social, quer na globalidade dos homens e mulheres da terra. Contemplar o menino “recém nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura” (Lc 2, 12) é voltar-se, mais e mais, para a essência do ser humano. Um ser aberto às necessidades alheias e às relações solidárias; liberto do egoísmo, da ganância, da avareza e de todas as formas de mesquinharias; livre para ser sinal do Deus-Amor e capaz de criar relações inter pessoais que promovam a paz, aquela trazida no primeiro natal.
Pe. Júlio Antônio da Silva (Astorguense) é sacerdote na Arquidiocese de Maringá
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