A estratégia oficial para eleger a ministra Dilma Rousseff presidente da República foi moldada dentro de um cenário político paradisíaco. Os arquitetos políticos do governo montaram em suas cabeças uma eleição plebiscitária em que os brasileiros iriam às urnas daqui a um ano apenas para dizer Sim ou Não às conquistas do governo Lula. O Sim seria expresso pelo voto em Dilma e ganharia de lavada. Faltou combinar com os eleitores e com os verdes. A ministra tem perdido simpatizantes e as intenções de voto estão migrando para a senadora Marina Silva, do Partido Verde.
Marina já ganhou apelido de "criptonita", a pedra esverdeada que intoxica as células do Super Homem, da Super Mulher e do Super Boy, criaturas imortais dos mestres dos quadrinhos Jerry Siegel e Joe Shuster.
No princípio a tática mostrou-se correta. Desconhecida da maioria da população, Dilma foi apresentada como a "mãe do PAC", o Programa de Aceleração do Crescimento, e passou a frequentar palanques ao lado de Lula. Em pouco tempo, ela conquistou 20% das intenções de voto. Como um comprimido efervescente em um copo com água, aos poucos a fórmula foi perdendo gás. A última pesquisa divulgada pelo Instituto Sensus revelou que a ministra não está ganhando novos adeptos e vem perdendo simpatizantes, que desembarcam do projeto carregando no peito até um certo ressentimento - de apoiadores eles passaram a rejeitar a candidata oficial.
"Dilma não conseguiu ganhar força eleitoral por seus próprios méritos. Os votos que ela tem hoje são do eleitorado que segue cegamente a orientação do presidente Lula", afirma Ricardo Guedes, presidente do Sensus. A rejeição à candidatura Dilma bateu na casa dos 37,%. Para os especialistas, a derrocada de um candidato atinge seu ponto de não retorno quando a taxa de rejeição atinge 40%. Falta pouco.
Perda de votos - O detalhamento da pesquisa mostra que a redução das intenções de voto da ministra está diretamente ligada à queda de popularidade de Lula. Como os dois eleitoralmente se fundiram, acabam também sofrendo junto os desgastes provocados pelos recentes escândalos. Dilma foi acusada pela ex-chefe da Receita Federal Lina Vieira de tê-la pressionado para arquivar uma investigação contra as empresas da família do senador José Sarney. A ministra negou a pressão, mas a pesquisa mostra que a maioria do eleitorado considera que ela mentiu. Dilma também é identificada como responsável pela salvação do mandato de Sarney na presidência do Senado, embora tenha partido do presidente Lula a ordem para poupar o aliado. Já estava dando tudo errado para a Super Mulher quando, para piorar, começou a chover criptonita.
Fator Marina - Nas últimas eleições, faltando um ano para o pleito, como agora, o candidato que liderava as pesquisas acabou confirmando o favoritismo nas urnas. Foi assim com Fernando Henrique em 1998 e com Lula em 2002 e 2006. Exceção aconteceu em 2004, quando Lula liderava com folga a disputa e terminou perdendo na reta final para Fernando Henrique - na ocasião turbinado por um cabo eleitoral poderoso e popular: o Plano Real. Dilma e Lula não têm nada da mesma envergadura do Plano Real para jogar sobre o tabuleiro. Mas também é sabido que a superpoderosa família do planeta Cripton sempre dá um jeito de afastar a criptonita do caminho.
"Marina saiu-se melhor entre as camadas mais informadas da população, que já tiveram conhecimento de sua candidatura. A tendência agora é que esse apoio se espalhe entre as camadas mais baixas", afirma o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), um dos mentores da campanha verde. Algumas pesquisas regionais confirmam a tendência nacional. No Acre, estado natal da senadora, pesquisa encomendada pelo PMDB mostra que ela atinge 52% das intenções e fez Dilma desabar de 20% para 2%. Em São Paulo, pesquisa do Vox Populi mostra a mesma tendência, Marina subindo na mesma proporção da queda da chefe da Casa Civil.
Tudo isso, aliado ao fato de que o governador José Serra segue inabalável como favorito absoluto, fez com que os marqueteiros alterassem completamente a estratégia da pré-campanha governista. "Para uma candidata que já estava com dificuldades em decolar, a entrada em cena de Marina foi a pior notícia possível", disse um dirigente petista. A primeira reação de Lula à novidade foi modificar a agenda de Dilma. Agora, o alvo imediato é tentar inviabilizar a candidatura do Partido Verde.
Apesar das dificuldades, Dilma não pode ser considerada carta fora do baralho. Ainda há 13 meses até a eleição e a força do apoio de Lula não pode ser descartada. "Há uma grande parcela do eleitorado, mais pobre, menos escolarizado e com menor acesso à informação que ainda não sabe que Lula não pode disputar mais um mandato e que sua candidata é a Dilma", afirma Mauro Paulino, diretor do Datafolha.
Fonte: Revista Veja
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