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dezembro 20, 2011

Algumas pessoas não gostam de Natal e do espírito natalino

Já é tradição: no carnaval, destoando da massa que sai para viver quatro dias como se fossem os últimos da vida, um grupo cada vez mais convicto se reúne para passar longe de samba, marchinhas, axé e paetês. Como alternativas, vale desde retiro espiritual até festivais de rock anticarnavalescos.
Mas o carnaval não é o único feriado a provocar urticária em certas pessoas: o Natal e todo o pacote que vem junto – amigos-secretos na firma, decoração kitsch, panetone e frutas secas – também é alvo de repúdio por uma legião de ranzinzas. Para essa turma minoritária, mas barulhenta, Grinch serve como grande ícone, e o hino é a delicada canção "Papai Noel Velho Batuta", da banda paulista Garotos Podres.
Pelo sentido familiar ligado à festa – e sua origem cristã – os depreciadores do Natal têm de ficar mais quietos do que os anticarnavalescos, se não quiserem ser reduzidos a ímpios sem coração por senhoras mais conservadoras. Engana-se, porém, quem pensa que os sisudos grinchianos estão em meia dúzia: mesmo no moribundo Orkut, a comunidade "Eu odeio Natal" ainda conta com 6.951 membros.
Facções
Os antinatalinos podem ser divididos em distintos grupos, de acordo com a violência de suas convicções. A estudante Mariele Morski pode ser definida como uma moderada. Ela se diz uma pessoa religiosa e afirma que sua família busca preservar na celebração o significado do nascimento de Jesus.
Suas razões para detestar o Natal são bastante pessoais: seu avô morreu numa data próxima ao feriado. Quando criança, até curtia a festa, mas com os anos foi perdendo o gosto conforme criou o hábito de passar os Natais sozinha. Segundo ela, opção sua.
"Meus pais viajavam para um lugar que eu não gostava, então ficava em casa ou ia para a casa de outros amigos. Quase passei um Natal sozinha, mas quando os amigos ficaram sabendo que eu estava só, me chamaram", diz.
Mesmo do alto de seus 18 anos, a estudante tem uma postura saudosista em relação à data. "Antes eu até saía para ver as casas do bairro que estavam iluminadas, mas acho que a cada ano que passa o povo desanima mais com esse tipo de coisa, seja pela falta de tempo, desinteresse ou por falta de dinheiro."
Capitalismo
O músico Marcus Coelho, 27, ataca o Natal com mais ímpeto. "É o maior trunfo do capitalismo, a distorção dos conceitos em sua plenitude. E ‘Papai Noel Velho Batuta’ é um hino, aquele tapa na cara que só o punk rock sabe dar", diz.
O músico explica que seu desapreço pelo Natal nada tem a ver com despeito, já que tem boa relação com a sua família. "A gente tem um lance muito legal no Natal, gostamos de nos reunir independentemente de presente ou qualquer coisa, manja?"
O problema, para Coelho, é a distorção do conteúdo. "Acho absurdo o que o Natal virou. A gente sabe que é uma indústria pesada, que fatura alto mexendo com o sentimento das pessoas. Se você não compra presente, acaba se sentindo um idiota. Muita gente faz dívida e passa o ano pagando, só porque é Natal", diz.
Radical
A estudante Nathália Virga, 27, se enquadra entre os radicais. "Queria que o Papai Noel fosse assado no lugar do leitão, que as mãos que seguram sacolas gangrenassem e caíssem e que todas as bolinhas de natal de todas as árvores explodissem ao mesmo tempo e cegassem todo mundo", diz a singela jovem que passou os últimos dez natais sozinha, por decisão própria ou falta de opção. "Se eu levar em consideração que sempre pude ir para a casa da minha família, então sempre foi por opção...".
Assim como Coelho, Nathália também diz que se dá bem com sua família, mas odeia o Natal pela alegria exacerbada, pelas falsidades e pela obrigação de comprar presentes mesmo sem ter um centavo no bolso. "Costumo dar presentes quando tenho vontade. Se vejo uma coisa e penso, ‘nossa, é a cara do fulano’, eu compro e dou na mesma hora, não espero datas. Odeio datas comemorativas em geral, na verdade. Aniversários, Dia das Mães, Dia das Crianças... Tudo."
O ódio da estudante se estende às árvores decoradas ("qual o objetivo daquilo, hein?") e aos amigos-secretos ("odeio os de empresa, da faculdade, só participo dos reduzidos, entre amigos de verdade"). De ícone natalino mesmo, só se salva o panetone. "Amo, deveriam fabricar o ano inteiro", diz. Tomara que haja muitos panetones para adoçar o feriado da Nathália que odeia o Natal.

(André Simões/odiario.com)

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