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julho 27, 2011

O mosteiro pode acabar

O mosteiro atravessava tempos difíceis: por causa da nova moda, que afirmava que Deus era apenas superstição, os jovens já não queriam mais ser noviços. Uns foram estudar sociologia, outros passaram a ler tratados de materialismo histórico, mas – pouco a pouco – a pequena comunidade que restou foi-se dando conta que seria necessário fechar o convento.
Os antigos monges foram morrendo. Quando o último deles estava pronto para entregar sua alma ao Senhor, chamou ao seu leito de morte um dos poucos noviços que restavam.
-Tive uma revelação – disse. – Este mosteiro foi escolhido para algo muito importante.
-Que pena – respondeu o noviço. – Porque só restam cinco rapazes, e não podemos dar conta de todas as tarefas, quanto mais de uma coisa importante…
-É uma pena mesmo. Porque, aqui no meu leito de morte, um anjo apareceu, e eu entendi que um de vocês cinco estava destinado a tornar-se um santo.
Disse isto, e expirou.
Durante o enterro, os rapazes olhavam-se entre si, espantados. Quem teria sido o escolhido: aquele que mais ajudava os habitantes da aldeia? O que costumava rezar com uma devoção especial? Ou o que pregava com tal entusiasmo que os outros sentiam-se à beira das lágrimas?
Compenetrados pela presença de um santo entre eles, os noviços resolveram adiar um pouco a extinção do convento, e passaram a trabalhar duro, pregar com entusiasmo, reformar as paredes caídas, praticar a caridade e o amor.
Certo dia, um rapaz apareceu na porta do convento: estava impressionado com o trabalho dos cinco rapazes, e queria ajudá-los. Não demorou uma semana, outro jovem fez o mesmo. Aos poucos, o exemplo dos noviços correu a região.
-Os olhos deles brilham – dizia um filho ao seu pai, pedindo para entrar para o mosteiro.
-Eles fazem as coisas com amor – comentava um pai com seu filho. – Vê como o mosteiro está mais belo do que nunca?
Dez anos depois, já havia mais de oitenta noviços. Nunca se soube se o comentário do velho monge era verdadeiro, ou se ele tinha encontrado uma fórmula para fazer com que o entusiasmo devolvesse ao mosteiro a sua dignidade perdida.

Paulo Coelho

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