Pelas estradas da Galileia passou um homem aparentemente comum. Vestia-se como os outros. Falava a mesma língua. Não tinha nenhum sinal externo que o tornasse diferente, que chamasse a atenção. Sua mensagem é que surpreendia a todos. Ele dizia: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).
Passou três anos renovando o mesmo anúncio: “O Reino de Deus está próximo!” Fazia questão de explicá-lo a todos: a pobres e a doentes, a ricos e a crianças. Não perdia ocasião de falar ou de mostrar com atos que reino era esse que estava chegando.
Um dia, entrou na cidade de Jerusalém. O povo não se conteve e começou a aclamá-lo: “Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor!” (Lc 19,38). Foi uma festa, uma belíssima festa. Todos davam passagem a esse rei que estava montado num jumentinho, ao mesmo tempo em que estendiam vestes e ramos de árvores pelo caminho. Havia também os que não participavam da alegria geral, e comentavam entre si: “Vede: nada conseguis. Todo mundo vai atrás dele!” (Jo 12,19).
Quatro dias depois, aquele mesmo Jesus que fora aclamado como enviado de Deus, estava diante de Pilatos, a maior autoridade local. Surpreso e curioso, Pilatos lhe perguntou: “Tu és o rei dos judeus?” E ouviu uma resposta que o deixou mais confuso: “Isso mesmo! Eu sou rei” (Mt 27,11). Por seu lado, o povo agora não o aclamava mais como “bendito”. Muito pelo contrário, num só grito, dizia e repetia: “Crucifica-o!... Crucifica-o!” (Mt 27,22-23).
Mais algumas horas e esse desejo do povo se realizaria. Aquele que passara a vida caminhando, e que dissera de si mesmo: “Eu sou o caminho” (Jo 14,6), estava agora imóvel, pregado numa cruz. Por ironia, haviam colocado sob o madeiro uma placa com a inscrição: “Jesus Nazareno, rei dos judeus” (Jo 19,19). Sob o riso de alguns, o alívio de outros e a dor de uns poucos, ele morreu, depois de ter perdoado a todos e de ter colocado sua vida nas mãos de seu Pai.
Fosse um simples rei, tudo teria terminado por aí. Mas, provando sua origem divina, três dias depois ressuscitou. Voltando para junto do Pai, e enviando o Espírito Santo que prometera, assegurava a expansão do seu reino. Ficava cada vez mais claro que não viera para um pequeno grupo de pessoas ou para determinada época. Seu projeto era e é para todas as pessoas, de todos os tempos e lugares. É reino, portanto, que não se confunde com os limites territoriais de um país, nem é formado por grupos fechados ou por pessoas que se consideram donas da verdade. É reino que nasce e cresce onde menos se espera. Por sinal, um dia, depois de tanto ouvirem Jesus falar a respeito desse reino, os apóstolos haviam lhe perguntado em que momento ele chegaria. Receberam uma resposta que, na ocasião, não entenderam bem: “O Reino de Deus já está no meio de vós” (Lc 17,21).
Na verdade, embora não seja deste mundo, é aqui e agora que esse reino se constroi. Ele cresce quando você estuda ou trabalha, quando se diverte ou reza, quando vence a tentação ou se doa ao irmão necessitado. Cresce quando você perdoa ou é perdoado, quando penetra no mistério de Cristo ou quando leva outros a conhecê-lo; quando toma parte num partido político e luta para nele introduzir critérios de justiça e verdade, ou quando se une aos vizinhos num trabalho de mutirão. Cresce quando você faz um retiro espiritual ou quando participa de uma ONG que trabalha por uma nobre causa.
Em cada uma dessas oportunidades ou em tantas outras, é Jesus que está passando em seu caminho e lhe dizendo: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Ouvindo tal apelo e aclamando o rei que vem em nome do Senhor, você estará colaborando com a expansão do Reino de Deus - reino que teve um de seus momentos mais importantes naquele domingo que passou a ser universalmente conhecido com o nome de Domingo de Ramos.
Esse domingo é uma porta que se abre para a Semana Santa. Nela, mergulhamos na Paixão e morte de Cristo e seremos convidados a acolher o Rei que pede passagem.
Dom Murilo S. R. Krieger
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