Em um dos episódios mais tumultuados da história da Assembleia
Legislativa (AL) do Paraná, manifestantes ocuparam ontem (10/02), o plenário e
conseguiram interromper a votação do pacote fiscal do governador Beto
Richa (PSDB). A previsão era de que eles passassem a noite na Casa e que
só deixassem o local mediante a retirada das propostas de pauta. As
mensagens 6/2015 e 60/2015, que cortam gastos públicos e arrocham
direitos trabalhistas, seriam votadas em regime de comissão geral, sem
análise prévia por parte das comissões permanentes da AL.
Após um entendimento junto à base aliada, costurado durante a
noite de anteontem, tudo caminhava para uma vitória relativamente
tranquila do Executivo. A aprovação do requerimento do "tratoraço, por
34 votos a 19, porém, levou um grupo de servidores públicos e
sindicalistas a romper o cordão de isolamento e entrar no prédio da AL.
Por volta das 17h30, parte das mais de sete mil pessoas que, conforme a
Polícia Militar (PM), protestavam contra o conjunto de medidas, acessou
as galerias, onde cerca de 400 docentes previamente cadastrados
acompanhavam as discussões, e desceu para a sala de votações. Ao
perceber que a invasão seria inevitável, a PM acabou liberando o acesso.
A situação fez o presidente da AL, Ademar Traiano (PSDB), suspender a
sessão por tempo indeterminado.
Acuados, parlamentares governistas se esconderam em uma sala
anexa ao plenário e só saíram sob escolta policial. Apesar do clima de
revolta, a ocupação foi relativamente pacífica, sem registro de feridos.
Até o fechamento desta edição, a assessoria de imprensa da AL não tinha
um balanço dos estragos causados, nem sabia precisar quando seria
possível retomar a plenária. A reportagem verificou que as grades do
Comitê de Imprensa, as portas de vidro das galerias e algumas caixas de
votação utilizadas pelos deputados foram danificadas.
Traiano informou, por meio de nota, que se reuniria hoje com os
líderes partidários, em horário a ser definido, para discutir formas de
retomar os trabalhos. O presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão,
contudo, contou que a intenção dos professores era não arredar o pé da
AL até que o governo retrocedesse. Às 20 horas, eles já se organizavam
para verificar quem seria responsável por buscar água e comida para o
"acampamento". "Essa é uma ocupação que denuncia a humilhação que o
governador tem posto aos servidores públicos de forma geral. Ao invés de
ficarmos nas escolas, atendendo aos alunos, precisamos vir aqui e
reivindicar os nossos direitos", afirmou.
O líder do governo, Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), atribuiu a
invasão a uma "falta de informação" por parte dos trabalhadores.
"Vivemos num Estado democrático de direito. A violência nunca é solução
para nada. Lamento que demagogos inflaram as pessoas, enganando-as,
quando na verdade já tínhamos feito todas as alterações necessárias para
preservar os direitos dos professores." De acordo com o peemedebista,
os parlamentares foram ameaçados e, se não fosse a ação da PM,
"dificilmente teriam passado incólumes".
A última ocupação dessa magnitude na AL havia acontecido em
agosto de 2001, durante a votação de um projeto popular que tentava
impedir a privatização da Companhia Paranaense de Energia (Copel). Com a
rejeição dos deputados, cerca de três mil pessoas, a maioria
estudantes, tomaram as galerias e subiram na mesa da presidência. Na
ocasião, a pressão popular acabou levando o então governador Jaime
Lerner (PFL) a desistir da venda da companhia.
folhaweb.com.br - Fotos: Theo Marques
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