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março 13, 2013

Dom João Braz de Aviz, 'Papável' brasileiro, sobreviveu a tiro de escopeta durante assalto

O cardeal João Braz de Aviz na Basílica de São Pedro, no Vaticano, no último dia 6
O arcebispo emérito de Brasília, Dom João Braz de Aviz, um dos cinco cardeais brasileiros com chances de ser eleito o novo Papa, sobreviveu a um tiro de escopeta durante um assalto, há 30 anos. Ele ficou com “pelo menos 130 furinhos de chumbo”, conta o irmão do cardeal, o padre José Amauri de Aviz, pároco de uma igreja no Lago Sul, em Brasília.
Dom João Braz de Aviz nasceu em Mafra, interior de Santa Catarina, torce pelo Palmeiras e gosta de música caipira e de macarrão, diz José Amauri. Atualmente, o cardeal ocupa o cargo de prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, no Vaticano.
O tiro de escopeta ele levou em outubro de 1983, quando estava a caminho de uma igreja no norte do estado do Paraná. O então padre foi obrigado a parar em uma ponte por determinação de um grupo de assaltantes que se preparava para roubar um carro-forte, segundo Amauri.
O irmão conta que Dom João Braz não se identificou como padre e permaneceu como refém até a chegada do carro forte. Quando o veículo apareceu, os bandidos tentaram pará-lo com tiros de revólver calibre 38. Os assaltantes acertaram os pneus do veículo, que acabou parando. Eles obrigaram o padre a pedir o dinheiro aos ocupantes do carro-forte.
“Dentro do carro estavam um motorista e um guardinha, com uma escopeta, uma 12, cano curto. Os bandidos, quando viram que não dava [para arrombar o carro forte], eles [disseram ao padre]: ‘Nós queremos só o dinheiro. Vai lá falar pra eles que nós queremos o dinheiro’”, afirma Amauri.
João Aviz foi alvejado por um dos guardas do carro-forte quando atendia ao pedido dos assaltantes. Segundo Amauri, o guarda atirou a uma distância de 30 metros. O tiro de escopeta espalhou chumbo em várias direções, atingindo diversas partes do corpo do hoje cardeal, entre os olhos e o tornozelo, conta o irmão. Os assaltantes fugiram.
Amauri disse que, depois de o irmão ser operado, resolveu contar as marcas de chumbo. “Eu contei até 130, mas ainda podia contar mais alguma. Ele levou muito chumbo, nenhum atingiu um órgão vital.”
O padre disse que um dos fragmentos de chumbo atingiu um olho, mas não deixou sequelas. “Passou por dentro do olho direito. Coisa assim de milímetros para a medula, na boca. O pulmão e os intestinos, todos com cheiro de chumbo. Isso foi um milagre. Milagre, nesse sentido, porque, veja, [os assaltantes] não tiraram dele a caneta de metal que ele tinha. Dois chumbos ficaram na caneta”, diz Amauri.
Ele afirma que o irmão permaneceu no chão por duas horas e meia à espera de socorro. Nesse tempo, Amauri diz que Dom João rezou o Pai-Nosso e pediu para que Deus o mantivesse vivo por mais dez anos. “Que [Deus] desse dez anos pra ele, que depois ele estava entregue. Depois de dez anos, fizeram ele bispo! Aí começou essa outra trajetória.”
Dom João Braz se tornou bispo ao 49 anos, em 1996, 13 anos depois de ter sido baleado. “Uma vez eu falei para ele: ‘Você vê, irmão, o João Paulo II foi preciso ficar Papa para atirarem nele. Você antes já levou o tiro’”, brinca o padre Amauri.

O padre José Amauri Aviz, irmão do arcebispo emérito de Brasília
Expectativa da família
Segundo o padre José Amauri de Aviz, nada mudou na rotina da família e do próprio arcebispo depois da renúncia de Bento XVI e da possibilidade de Dom João Braz de Aviz se tornar o primeiro Papa brasileiro da história.
“Ele não mudou em nada sua postura. Na nossa família estamos na expectativa. Os que rezam estão rezando. Os que estão unidos entre nós estão na expectativa.”
Amauri afirma que a Igreja Católica está caminhando para uma reforma e que a eventual eleição do irmão como Papa reforça a ideia de unidade buscada pela instituição. “O João não é sozinho se for [eleito Papa]. Primeiro estão os brasileiros, leigos, padres, bispos, as comunidades, em função do lema ‘que todos sejam um’.”
De acordo com o padre, o candidato a Papa adotou o lema quando tinha 11 anos e estudava com padres missionários do movimento católico italiano “Focolares”, em Assis, interior de São Paulo. Amauri diz que o movimento prega a ideia de uma igreja mundial, uma proposta de unidade, “que todos sejam um”. “Interessante que esse vai ser o lema do bispo João, e depois do cardeal, que é um presságio do que a Igreja está precisando hoje.”
Amauri disse que conversou com o irmão sobre a possibilidade de ele ser o próximo Papa, mas que Dom João não falou muito sobre o assunto. “Perguntei para ele sobre isso e ele disse: ‘O conclave vai começar e eu vou ao conclave’.
‘Desígnio de Deus’
Dom João Braz de Aviz é um homem comunicativo, objetivo, atencioso, firme e capaz de preparar uma agenda de atividades para o ano todo, define o irmão. Segundo Amauri, ele é “organizado de uma forma que produz”.
“Ele é um homem do diálogo, fruto da sua verdadeira compreensão do ser humano. Ele é acessível nos momentos de acessibilidade. Ele não gasta tempo com isso, mas aplica o tempo. Cada ser humano não tem diferença. O Papa, os cardeais ou o mendigo que vê na praça, ele trata com o mesmo respeito. Ele vive sua convicção cristã. Ele tem muita vivência da fraternidade com todos.”
O candidato a Papa começou a se preparar para o sacerdócio aos 9 anos, quando ele e o irmão Amauri estudavam em um colégio religioso na cidade de Itaiópolis, em Santa Catarina. Dom João Braz e Amauri foram ordenados padres no mesmo dia, em 26 de novembro de 1972.
O cardeal havia acabado de retornar de Roma, onde se formou mestre em Teologia Dogmática, aos 25 anos. Em pouco mais de 40 anos como religioso, ele foi bispo auxiliar de Vitória, no Espírito Santo, bispo de Ponta Grossa e arcebispo de Maringá, no Paraná, antes de chegar à capital federal para chefiar a Arquidiocese de Brasília, em 2004.
Há dois anos vivendo no Vaticano, ele foi nomeado cardeal pelo Papa Bento XVI em fevereiro de 2012. “Ele nunca duvidou que seria padre, desde a primeira infância. Eu creio que meu irmão tem um desígnio e Deus o prepara para cargos maiores dentro da Igreja. Ele pode suceder o Papa que o nomeou apenas um ano depois que ele chegou em Roma”, afirma o padre Amauri, que viveu com o irmão na capital federal durante dois anos.
Amauri é o mais velho entre oito irmãos do candidato a Papa e trabalha na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Brasília. Dom João Braz é o segundo filho. Dos sete irmãos do cardeal, três vivem no Distrito Federal e quatro em Curitiba, no Paraná.

(G1)

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