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março 10, 2013

A dona da foto que mudou uma vida

No feriado de 12 de outubro do ano passado, uma simpática e falante gaúcha de cabelos longos e loiros veio a Curitiba para visitar os tios, uma prima e uma amiga que não via há algum tempo. Ficou na cidade durante uma semana e no dia 17, como boa turista, resolveu flanar. Visitou parques, fotografou o movimento na Rua XV e clicou a Catedral. Ali, perto das 14 horas daquele dia quente de outubro (a cidade havia registrado a maior temperatura para o mês desde 1936), foi surpreendida por um jovem enrolado em um cobertor. “Tira uma foto? Quero aparecer no rádio e ficar famoso”, disse de forma agitada e confusa o rapaz, até então só mais uma das 3 mil pessoas que vivem nas ruas de Curitiba. Era o primeiro e decisivo encontro entre Indy Zanardo, 39 anos, fotógrafa, e Rafael Nunes, 31 anos, dependente químico que inadvertidamente ficou conhecido como “mendigo galã”.
“Tirei a foto e ele saiu correndo. Rodou seu cobertor como se pudesse voar ou como se só houvesse ele nas ruas”, conta Indy. A gaúcha se impressionou com o resultado do clique, já que o retratado não lembrava em nada o “rapaz sujo, agitado e perturbado” que havia encontrado. É que Rafael posou. Por alguns segundos, o cheiro ruim se foi, o cobertor virou uma roupa de dar inveja a Louis Vuitton e as luvas azuis, puídas, se transformaram em elegantes acessórios. Naquele momento, o mendigo voltou a ser modelo, sua profissão de dez anos atrás.
Indy se sentiu impaciente com a situação inédita e postou a foto no Facebook. Em cinco horas, havia 10 mil compartilhamentos. No final do dia, eram 54 mil – entre piadas infames, montagens virtuais e uma crescente polêmica sobre um caso em que um dependente avisou, silenciosamente, que o vício não escolhe por genética ou classe social.
“Foram dias de angústia, porque queria entender o que estava acontecendo e principalmente por que Deus havia me usado para encontrar aquele jovem e, de certa forma, mudar a história dele,” conta a fotógrafa.
Chamado
Nos dias seguintes, a gaúcha acompanhou estupefata a repercussão do caso. De Caxias do Sul, torcia para que Rafael conseguisse se recuperar, para que voltasse ao convívio familiar. Religiosa, entendeu tudo como uma missão e comemorou quando soube que uma clínica em Araçoiaba da Serra, em São Paulo, havia oferecido tratamento gratuito. Indiretamente, por sua culpa. “Acredito que nada é por acaso. O padre Roger Araújo, da minha igreja, sempre dizia: muitos são chamados, mas poucos ouvem. Naquele momento eu ouvi.” Indy espera reencontrar Rafael em breve. São, sem o cobertor nas costas e com brilho radiante “naqueles olhos azuis incríveis”.

Rafael Nunes visita a família na próxima sexta-feira
Pela primeira vez desde 20 de outubro de 2012, quando iniciou o tratamento em uma clínica de Araçoiaba da Serra (SP), Rafael Nunes deixará o local para visitar a família. O encontro está previsto para o próximo dia 15. Edith Claurele, mãe do rapaz, não vê a hora.
“Visitamos ele duas vezes, mas a saudade é muita”, conta. Dona Edith diz que o tratamento vai bem – deve durar nove meses – e que Rafael está “mostrando que tem chance de melhorar”. A senhora, que mora com o marido deficiente visual e um neto em uma casinha no Guaraituba, em Colombo, também torce para que um dia possa agradecer Indy Zanardo pessoalmente. “Ela foi um anjo que apareceu em nossas vidas.”

(Gazeta Maringá)

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